JARDIM DAS ALMAS - Geraldo Sant'Anna


JARDIM DAS ALMAS DE GERALDO SANT'ANNA

Vem ás minhas mãos, Jardim das Almas, do escritor Geraldo Sant’Anna, lançado pela Literarte, e vem causando surpresa e encantamento. 
- Surpresa pelo desenrolar da trama e encantamento pela fruição com que o texto se apresenta, sendo leve e denso ao mesmo tempo, pois apresenta muitos temas passíveis de uma leitura transversal. 
- Como a que apresento aqui... 
Jardim das Almas é um romance provocativo, que em mim, provocou questionamentos, e fez com que o meu pensamento fosse de encontro ao que usualmente se estabelece como normal em nossa sociedade... Famílias e seus interesses! 
Assim, é muito oportuna a apresentação, já nas primeiras páginas do livro, do aforismo de Martinho Lutero: “A família é a fonte da prosperidade e da desgraça dos povos.” 
E mais, no desenrolar da trama, pude encontrar a visão de Geraldo Sant’Anna sobre ela, com apresentação de maiores detalhamentos e desdobramentos... 
A história de Jardim das Almas, é sem sombra de dúvida a história de nossos tempos, que narra a nossa passagem pela face da terra, depois da expulsão do paraíso. 
É um retrato fiel do que trazemos em nossos corações e almas, quando deixamo-nos levar pela riqueza do mundo, pelas coisas do mundo, e nos afastamos das coisas de Deus! 
É um relato de conchavos, de artimanhas urdidas para corromper destinos, desvirtuar vidas, que se fossem deixadas em liberdade correria em outra direção... 
- Como se o momento em que estivemos livres fora no paraíso? 
E em certo sentido, Jardim das Almas, questiona se temos o direito de comandar a nosso bel prazer a vida alheia! 
E as consequências de fazê-lo ou não... 
Jardim das Almas fez-me pensar nas questões de ética, de moral, que a principio todos nós possuímos, mas que só se estabelecem quando aceitas por um grupo de pessoas... 
Grupo a que nos sujeitamos, e grupo que impomos a outros... 
Fez-me pensar na importância dada a bens materiais, em detrimento da importância pessoal... 
Do ter ao invés de ser... 
Fez-me pensar na valorização desmesurada a títulos e honrarias, que distinguindo pessoas, as separam e isolam... 
Jardim das Almas de Geraldo Sant’Anna de maneira magistral fez-me pensar na importância da educação que possibilita a escrita, que organiza as ideias em livros, que se tornam assim estufas incubadoras do porvir... 
Um belo livro, este em minhas mãos, este Jardim das Almas, de Geraldo Sant’Anna, que tem a dignidade de mostrar em si mesmo, que o que fazemos em nossas vidas tem o poder de ser belo, e de ser horrendo, de ser libertador ao mesmo tempo que pode escravizar! 
Jardim das Almas, nos desnuda! 
Desnuda em principio o poder das elites ruralistas, para no fim desnudar o de todas as elites e o poder que todos pensam ter em relação aos outros... 
Põe por terra as manobras de controle que exercemos todos, uns sobre os outros, e dá um alerta, quanto aos personagens, que me parece dizer respeito a todos nós, alerta que foi muito bem salientado por Cláudia Brino & Vieira Vivo, na segunda orelha do livro: 
(...) “o autor joga dados com a vontade própria dos personagens ao revela-los, por fim, enredados em outra trama onde cada ato já estava previamente estipulado.” 
Mas, enfim, não seria essa a realidade de nossas vidas? 
Quanto ao autor, Geraldo Sant’Anna conclui: “A humanidade, em sua história, cria ininterruptamente fractais de sangue, que ocultam crenças, valores, beleza e nostalgia em sua curiosa geometria.” 
Mas, se, segundo Jó 33:21: “Desaparece a sua carne a olhos vistos, e os seus ossos, que não se viam, agora aparecem.” 
Chegará o dia em que toda a maquinação estará a mostra, e a verdade aparecendo, se não mudarmos a direção e a intenção de nossos atos, mostrará que desperdiçamos a chance de vivenciarmos a melhor parte da nossa própria história, desperdiçando a nossa vida! 
Ou será que já estava tudo, previamente estipulado, desde que nossos atos nos expulsaram do paraíso? 

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